Após doze anos sem publicar um livro inédito desde o comovente Miserere (2013), Adélia Prado retorna ainda mais profunda e madura em O jardim das oliveiras (Record, 2025, 144 p.), um livro que é ao mesmo tempo síntese e reinvenção de sua obra, um mergulho poético na aridez e na transcendência, no mistério e na lucidez.
Os 105 poemas aqui reunidos retomam temáticas vivas na obra da autora, como o conflito essencial entre luz e sombra, fé e dúvida, poesia e silêncio. Em versos de grande força simbólica, o sagrado e o cotidiano se entrelaçam com rigor e desatino.
A poeta elabora uma reflexão radical sobre a origem da linguagem poética e seu papel diante do mundo - 'era Deus quem doía em mim', escreve, em um dos momentos mais cortantes da obra. A poesia aqui se mostra em estado de vigília: há ecos metalinguísticos, diálogos com a própria história literária da autora, desde o nascimento de Bagagem até a comunhão mais serena com o mistério. É um livro que ouve vozes - as do povo, de Minas, do divino, da vida íntima - e as entrelaça com extrema precisão sonora, clareza lírica e uma compaixão crescente pela condição humana.
Agora, a tempo de comemorar os prêmios Camões e Machado de Assis (ABL), conquistados em 2024, e os 90 anos da autora, completados em dezembro de 2025, O jardim das oliveiras chega aos leitores com capa do premiado designer Leonardo Iaccarino, criada a partir da tela Cactus (1983), da artista plástica mineira Fani Bracher.
Equipe do site
23.08.2025