Natsumi Hayashi

Bom humor, bom humor mesmo, pouco tem a ver com essa alegria que as pessoas julgam obrigatória nas intermináveis fotos do FB e redes semelhantes. E muito menos na ostentação de uma suposta felicidade, que hoje parece ser um dever coletivo. O bom humor, pelo menos um que seja mais duradouro, brota é de um certo olhar sobre nós mesmos, da capacidade de rir de nós mesmos, de uma espécie de desinflação psíquica. De fato, está passando da hora de reconhecermos que não somos tão bons quanto nos julgamos, nem tão inteligentes, nem tão perspicazes quanto gostamos de parecer. E nem nossos adversários são tão estúpidos, ignorantes ou passíveis de suspeição quando alardeamos. A linha que divide bons e maus existe, embora não seja tão nítida como desejamos.  E mais;  nenhum de nós está o tempo todo do lado bom. O mundo, o mundo real, não cabe inteiro nos nossos discursos por mais articulados que pareçam. Sobra sempre, ainda bem. O ódio que cultivamos, a indignação que esbravejamos, não poucas vezes, fala mais de nós mesmos e não tanto sobre os outros. Claro, não é o caso de defender nenhum indiferentismo e nem afirmar que todos os gatos são igualmente pardos. Não são, mas um bom humor desse tipo parece necessário se quisermos, de fato, retomar a conversação entre nós, sair de nossas ilhas, relaxar nossas defesas. Embora andemos esquecidos, fomos feitos, nós, os humanos, uns para os outros, para que nos eduquemos mutuamente. E não para essa raiva surda, cheia de certezas e, suspeito, desesperada, que tem marcado nosso cotidiano.  E lembrando Fernando Pessoa andamos precisando de um Esteves. Não um Esteves sem metafísica, que a metafísica tem lá seu encanto, mas um Esteves que nos tire do nosso endurecido mal humor.  

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola