Casa (in)comum 

O ainda recente olhar voltado para o mundo à nossa volta, a ideia e o sentimento de que há uma casa a ser cuidada e de que não é mesmo mais possível manter a dimensão predatória que tem caracterizado a ação humana, tudo isso abre um horizonte de questões e experiências a serem trabalhadas.

Acostumamo-nos, à medida que a modernidade avançava, a esgotar o nosso entendimento e nossa busca de significado, na cultura e, em particular, na filosofia, nos temas mais imediatamente humanos. Inebriados, talvez justamente, pela descoberta da espessura humana, do que é próprio do humano, a Terra, que começamos novamente a chamar de casa, parecia apenas um cenário vazio e dócil à manipulação humana.

Agora advertidos dos limites dessa atitude, assustados com a percepção de que os recursos da Terra não são infinitos, começamos a prestar atenção e a promover atitudes e recomendar cuidados capazes de reorientar nossa forma de presença no mundo. E não se trata apenas de deter uma atitude, de interromper uma marcha, mas de reconhecer o que, com um pouco de exagero, poderíamos chamar de direitos da Terra. O mundo não é mudo, há palavras encerradas nas paisagens, nas grandes paisagens e nos pequenos jardins à nossa volta. Vamos aprendendo que o universo é também Verbo feito carne. E assim, quem sabe, esse orgulho excessivo – e terrivelmente solitário - que se traduz em tanta agressividade técnica possa vir a ser substituído pelo desejo de uma convivência mais harmoniosa, capaz de se afastar da brutalidade predatória, que é, tantas vezes, devedora ora do receio, ora do medo diante do mistério que nos envolve.

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola BH

06.01.2020

Imagem: pexels.com