Continuam em curso as tentativas de compreensão dos acontecimentos que marcaram o mês de junho entre nós. A multidão que esteve presente nas ruas, o número de cidades com ocorrência de manifestações e sua distribuição pelo território brasileiro, a diversidade das demandas apresentadas e, sobretudo, a vontade de mudança, tão amplamente espalhada, resistem como um conjunto de interrogações a ser enfrentado. Os moldes habituais de leitura dos acontecimentos, ou seja, a leitura calçada no jogo partidário, são francamente insuficientes. Não que partidos devam ser alijados, não há democracia duradoura sem partidos, mas daí a inferir que eles devam esgotar a vida política, ou que devem permanecer intocados, vai uma distância inaceitável. Assistimos, levando em consideração a história recente, movimentos semelhantes – o movimento pelas diretas, a luta contra  Collor -, mas dessa vez alguma coisa mais difusa e mais básica esteve, e está, presente. Uma indignação serena, um descontentamento diante de tantos abusos, a certeza de que tudo poderia ser diferente e melhor, o vislumbre de um País mais justo, menos violento, menos desigual e mais desenvolvido, uma impaciência diante da esperteza reiterada de tantos de nossos políticos, tudo isso reclama um olhar novo e um afastamento de nossos hábitos analíticos.

Em Junho, sentimo-nos vivamente pertencentes a uma Pátria, o Brasil, cidadãos de um País ao qual devemos cuidados constantes. Por ora, tudo é, ainda, uma tarefa, apenas uma possibilidade. Mas a alegria e a disposição vindas das ruas confirmam que a luta vale a pena e que a invenção nos espera. Tomara que Junho não se encerre.

 

Para pensar na quinzena:

“Cabe a nós zelar pelo sagrado que habita esse espaço-tempo que nos une” (Luiz Gabriel Lopes)    

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

15.07.2013