Que, neste Natal, mais do que tudo, sejas. Sejas de verdade.
Que, neste Natal, sejas o abraço que refugia.
Que, neste Natal, sejas o sorriso que abraça.
Que, neste Natal, sejas a mão que segura.
Que, neste Natal, sejas o olhar que toca.
Que, neste Natal, sejas a ternura que cura.
Que, neste Natal, sejas o colo que cuida.
Que, neste Natal, sejas a palavra que fala do coração, ao coração.
Que, neste Natal, sejas a presença que conforta.
Que, neste Natal, sejas o gesto que salva.
Que, neste Natal, sejas a vida que ama.
Que, neste Natal, sejas a luz que acende todas as estrelas. A luz que acende a chama da esperança.
Que, neste Natal, sejas a paz que abraça a alma. A paz que serena o coração.
Que, neste Natal, sejas o lado bom, a parte bonita. Do dia, da vida, do mundo. Para alguém.
Que sejas o milagre de Natal de alguém. Que faças sorrir. Só por seres, por estares, por existires. Com amor.
Que, neste Natal, mais do que tudo, sejas amor.
Talvez descubras que é tudo o que importa. E talvez descubras que o verdadeiro sentido do Natal (e de tudo) é continuar a sê-lo, todos os dias. Sempre. E a encontrá-lo também.
Sê Natal. Feliz Natal.
Daniela Barreira
in: imissio.net 18.12.23
imagem: pexels.com
A bênção da vida
Peço humildemente para existir,
imploro humildemente uma alegria,
uma ação de graça,
peço que me permitam viver com menos sofrimento,
peço para não ser experimentada pelas experiências ásperas,
peço a homens e mulheres que me considerem
um ser humano digno de algum amor
e de algum respeito.
Peço a bênção da vida
Fonte: Clarice Lispector. Todas as cartas. Edição ampliada. Rio de Janeiro: Rocco, 2023, p. 90.
Gente . . .
AS BÊNÇÃOS
Não tenho a anatomia de uma garça pra receber
em mim os perfumes do azul.
Mas eu recebo.
É uma bênção.
Às vezes se tenho uma tristeza, as andorinhas me
namoram mais de perto.
Fico enamorado.
É uma bênção.
Logo dou aos caracóis ornamentos de ouro
para que se tornem peregrinos do chão.
Eles se tornam.
É uma bênção.
Até alguém já chegou de me ver passar
a mão nos cabelos de Deus!
Eu só queria agradecer.
Manuel de Barros
In: O fazedor de amanhecer
imagem: pexels.com
[DEVERÍAMOS TER A MESMA IDADE]
deveríamos ter a mesma idade,
seis, sete.
a mãe desceu do ônibus mas ele deu partida
com a filha dentro.
os passageiros começaram a gritar:
“pelo amor de deus, motorista,
para esse ônibus!”
a garotinha chorava de medo.
eu chorava de medo.
e a gente se parecia tanto
que agora vejo que ela sou eu.
a mãe desesperada correndo atrás do ônibus
sou eu.
corro, bato,
quebro os dedos
querendo-me de volta,
o ônibus não para.
o ônibus nunca para.
Mariana Godoy
In O Afogamento de Virginia Woolf
Patuá, São Paulo, 2019
Imagem: pexels.com/ Dipak Rathwa
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