[TENHO CHORADO]
tenho chorado
no meio da rua
dentro do carro
ao telefone
com estranhos
falo em voz alta
do luto
da falta
o coração despedaçado
à espera de uma palavra
que conforte
que nunca é
o suficiente
todas as águas
vivas
correm
se atormentam
dentro de mim
queimam
Marina Rabelo
Lapinha
O MUNDO
o único lugar confortável no mundo
é o amor
depois que os espinhos
são retirados da pele
esse é o nome
de quase tudo
Déborah de Paula Souza
Todos os poemas:
in Vermelho vivo
Laranja Original, São Paulo, 2021
254
“Esperança” é a coisa com plumas —
Que na alma se aninha —
Seu canto não tem palavras —
Sempre a mesma — ladainha —
Soa bem — na ventania —
E só a forte tormenta —
Há de calar a Passarinha
Que a tantos acalenta —
Ouvi-a na terra mais fria —
E no estranho Mar sem fim —
Mas — nem em situações extremas
Pediu migalhas — pra Mim.
Emily Dickinson
Todos os poemas:
in Poesia Completa – Volume I: Os Fascículos
Tradução, notas e posfácio: Adalberto Müller
Prefácio à edição brasileira: Cristanne Miller
Editora UnB, Brasília, 2020
O MUNDO
o único lugar confortável no mundo
é o amor
depois que os espinhos
são retirados da pele
esse é o nome
de quase tudo
Déborah de Paula Souza
• Todos os poemas:
in Vermelho vivo
Laranja Original, São Paulo, 2021
I (2)
Abandonei o tempo dos limites.
É do infinito que a alma mais tem fome.
A vida tece a urdidura do avesso
E é de loucura que o corpo se sacia.
Minha paixão não teme estes abismos.
O que se busca é nesta névoa que se oculta.
Luíza Mendes Furia
In Vênus em Escorpião - Patuá, São Paulo, 2016
Nós nos abraçamos.
Eu toco em tecido rico
Você em tecido pobre.
O abraço é ligeiro
Você vai para um almoço
Atrás de mim estão os carrascos.
Falamos do tempo e de nossa
Permanente amizade. Todo o resto
Seria amargo demais.
Autor: Bertolt Brecht (1898-1956)
Pressentimento
Imóvel como árvore no outono,
onde não bate o vento, onde não há
sopro ou movimento e, mesmo assim,
no alto, num galho,
por nenhuma razão aparente,
uma única folha oscila
violentamente.
Para que melodia
ela dança?
Que nota perdida vibra
em mim?
Do passado ou do futuro?
Memória
ou Pressentimento?
Anne Morrow Lindbergh
In: O Unicórnio e outros poemas
Ibis Libris; 1ª edição (1 janeiro 2015)
Imagem: pexels.com/ Mikhail Nilov
120 SEGUNDOS
sem ar, é coisa de um, dois minutos,
sem água, aí já leva uns poucos dias.
sem comida, demandará um par de semanas,
no máximo.
isso sem contar o trágico acidente,
em sua fração de segundos.
como se vê,
a morte é ágil
para se impor.
a vida é que toma certo tempo
até que possa ser
servida.
Marcílio Godoi
in Estados Úmidos da Matéria
Patuá, São Paulo, 2016
Imagem: pexels.com
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