Moralidade e responsabilidade
Moral, moralidade, moralista são expressões que, quando usadas, costumam ter o mesmo propósito, ou seja, a menção a um sistema de valores dos quais nós queremos nos distanciar. De certo modo, a expansão do individualismo e, em seguida, do narcisismo, com todas as conseqüências, inclusive no campo do consumo, daí advindas, criou dificuldades para qualquer reconhecimento, pelo menos na esfera privada, de limites à ação individual. E, mais do que isso, passamos a entender essa expansão como um indicador de liberdade e como um movimento do qual só se esperaria um crescimento constante. Mas como ocorre com freqüência apesar de nossa desatenção, a história nunca caminha de forma linear e, sobretudo, não é possível eliminar a presença da incerteza e da contingência tão próprias da condição humana.
Digo isso tendo em vista a pandemia e tudo o que ela implica com relação, por exemplo, ao comportamento. A correção atual das políticas de reclusão está entre as poucas certezas que temos em meio a incertezas generalizadas. Estar recluso, restringir as saídas ao que de fato for necessário, a adoção de medidas de higiene, o uso de máscaras, são recomendações dirigidas a todos nós e, claro, sinalizam restrições. Não se trata de medidas com impacto individual, mas, como é sabido, estamos diante de um cenário no qual ações individuais podem ter largo alcance. É exatamente aqui que reaparece a questão moral, ou seja, a questão que diz respeito à vida em comunidade. Se antes a garantia da liberdade individual irrestrita parecia uma meta inquestionável a ser sempre perseguida, sabemos agora, via pandemia, que, à maneira de uma rede, o impacto do que fazemos, ou deixamos de fazer, se estende para além de nós mesmos. Assim, reaparece o tema da responsabilidade e o reconhecimento de que somos, sempre, agentes morais, tornando mais evidente que muitos dos nossos atos, longe de se esgotarem no espaço individual, desencadeiam conseqüências públicas e, sem dúvida, devem ser avaliados também a partir daí.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
Durante muito tempo a sombra do coronavírus permanecerá entre nós. Mesmo que tenhamos sido bem sucedidos na obtenção de uma vacina, ou mesmo de um medicamento eficaz, e tomara que o sejamos, esse tempo de hoje é de uma dor incomensurável. Muitas vidas estão sendo perdidas, rituais de passagem que conferem um rosto humano à morte estão suspensos, dificuldades econômicas se multiplicam, a sociabilidade está fragmentada. Seria mais que legítimo esperar ações de uma liderança política consciente da gravidade da situação, mas não é esse o caso. Pelo contrário, o que torna o sofrimento de todos ainda maior é a patética e inconseqüente insensibilidade do governante maior da nação.
Seremos, mais adiante, capazes de contar essa história, de dar a ela um rosto humano onde possamos nos reconhecer? Faremos isso, ainda que aos poucos, será condição de nossa sobrevivência como comunidade. Nós nos recordaremos do heroísmo cotidiano de tantas pessoas, dos que permaneceram solitários, dos que não puderam ficar em casa, dos que se sacrificaram, dos que estiveram na linha de frente; estarão nos nossos corações os inúmeros exemplos de solidariedade cotidiana que permitiram que tantos atravessassem a crise com um mínimo de dignidade. Também nos lembraremos dos que se foram, dos que não serão reencontrados. E, talvez, o coração comovido nos recorde de que andávamos esquecidos de nossa humanidade, seduzidos, iludidos pela busca de uma ilimitada segurança. E, quem sabe, volte a fazer parte de nossas vidas a atenção a valores mais capazes de tornar a vida humana significativa e solidária. Teremos aprendido que a fragilidade de nossa condição recebe sustentação da bondade, da justiça, da tolerância, da beleza, da verdade, do amor?
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
Há palavras que desaparecem, como desaparecem, ou quase, os significados a ela associados e as atitudes a que elas se referem. Reverência é uma delas. Irreverência, seu antônimo, não só é amplamente usada, como é uma dessas palavras carregadas de aprovação. Dizer de um comentário que ele é irreverente ou classificar como irreverente uma conduta é, por si só, um elogio. Quando somos irreverentes, em geral estamos indicando nossa desaprovação de alguma coisa, dizendo que não merece o crédito de que desfruta ou que não tem a importância que julga ter. A irreverência costuma vir acompanhada de alguma espécie de sátira e tendemos a vê-la como um exercício de humor. Está bem que seja assim, há muitas crenças e valores que não fazem justiça à extensão da experiência humana e sua natural diversidade.
Mas isso é tudo? Irreverência não tem a ver, também, com essa disposição tão contemporânea de medir tudo pelo nosso gosto, de reduzir o real ao que nós admitimos como real? Submetidos à tirania de nós mesmos e do nosso interesse mais imediato, não perdemos de vista quaisquer contornos capazes de propiciar seja uma sociabilidade mais generosa, seja a adesão a valores que tornem a existência humana mais enraizada, menos sujeita à pressão dos modismos e das circunstâncias? Contrariamente ao que se costuma pensar, a reverência é o que nos expande para além de nós mesmos, que nos faz ver no universo a que pertencemos, nas comunidades onde vivemos e nos grandes temas que rondam a existência humana uma morada capaz de acolher o rumor do infinito que habita nossa finitude.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
A recomendação, tão necessária, para que fiquemos em casa é, como sabemos, essencial para o trabalho daqueles que não podem ficar em casa. Mas ficar em casa tem, de um lado, uma dimensão desoladora. É que fomos feitos para o convívio, como disse um antigo filósofo grego. E mais, nós nos formamos no convívio. Então é compreensível que essa recomendação nos incomode. Mas, vejam, isso não é tudo. E até pensando bem, de uns tempos para cá, temos, metaforicamente, permanecido em casa na medida que, cada vez mais, convivemos com quem pensa ou sente como nós. Circulamos em grupos resistentes a quaisquer interações com o dessemelhante, restringimos nossa experiência espacial a determinados lugares da cidade, e usamos o que cremos como uma forma de cola com os outros. Assim, talvez o que nos incomode em ficar em casa seja a restrição, a suspensão do que acreditamos ser a nossa liberdade, não tanto de conviver, mas de exercer nossa vontade, já que entendemos por direito qualquer coisa que queiramos fazer. Daí nossa inquietação.
Mas ficamos, mesmo contrariados, em casa, pois há uma ameaça. Mas não é fácil já que o receio, mesmo justificado, não é suficiente. Então nos deparamos com uma das faces mais duras da miséria de nossos tempos, a nossa pouca habilidade, os nossos escassos recursos para convivermos com nós mesmos. Somos hoje, muitas vezes, animais distraídos e quando a distração escasseia, como agora, é inevitável um certo mal estar. A convivência com nós mesmos, esse território tão próximo, tão distante, sempre foi mediada, ao longo do tempo, por histórias, sejam as vindas dos mitos, da poesia, da literatura de uma forma geral e das religiões. Contávamos com relatos sobre os instantes e as circunstâncias mais básicas de nossas vidas: o amor, a dor, a morte, a esperança, a diferença entre o bem e o mal, a coragem e assim por diante. Esses relatos procuravam dar um rosto humano ao enigma de que somos feitos. Relegados a um canto, desaparecidos dos espaços públicos, perderam sua dimensão formativa. E perdemos nós boa parte dos nossos instrumentos para lidar com o que nós, humanos, temos de mais constitutivo, esse enigma que somos. Oxalá, involuntariamente confinados, sejamos capazes de voltar nossa atenção para essas fontes de sabedoria que indicam, ainda que de forma sempre incompleta, os caminhos que nos conduzem à intimidade da existência.
Ricardo Fenati
Equipe do site
1. “O verdadeiro caminho passa por uma corda esticada não em altura, mas um pouco acima do solo. Parece destinada a fazer tropeçar, não a ser ultrapassada.” (Kafka, Aforismos).
2.De acordo com J. Maritain, há um pecado derivado do que se pode chamar de angelismo: “A recusa da criatura a submeter-se ou ser governada por quaisquer das exigências da ordem natural.”
3.Sobre a leitura: “Quanto à leitura, de resto, esse gozo ao mesmo tempo ardente e tranqüilo... durante o qual mil sensações de poesia e de
bem-estar confuso, que esvoaçam com alegria no fundo da boa saúde, vêm compor em torno do devaneio do leitor um prazer doce e dourado como mel.” (Proust)
4.Os melhores livros levam-nos à convicção de que a natureza que os escreveu é a mesma que os lê.” (Emerson)
5.“As rugas e bolsas no rosto são as grandes paixões que se registraram em nós, vícios, conhecimentos que nos visitaram quando nós, os senhores, estávamos ausentes.” (Walter Benjamim)
6.A poesia mantém a sanidade porque flutua facilmente num mar infinito. A razão procura atravessar o mar infinito e, assim, torná-lo finito. O resultado é a exaustão mental. ”(Chesterton)
7.“Basta existir uma vida, qualquer espécie de vida, para que exista o impossível.” (Bartolomeu Campos)
8.“A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele, e com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens.”(Hannah Arendt).
O diário prossegue, cuidadoso com o que parece estar, a custo, vindo à tona, mas sem deixar de anotar a dor em volta e que atinge amigos, professores e tanta gente cara a ela. Mas nenhuma aventura interior é uma linha reta e contínua: “em momentos quase extáticos acho que posso fazer maravilhas, para em seguida afundar de novo no mais profundo poço de incertezas... Isso acontece porque não trabalho de maneira diária e regular naquilo que acredito ser meu talento: a escrita... a graça divina tem que encontrar uma técnica bem preparada em suas escassas aparições”.
A literatura é uma paixão, companhias como Rilke e Dostoiévski estão sempre por perto. Uma e outra vez ela se refere ao que, mais adiante, escreveria. Mas a hora é sombria, o ódio está muito próximo: “O grande ódio contra os alemães, que envenena a própria alma, é um problema atual... Expressões como “deixe que todos se afoguem, corja, têm que ser dedetizados fazem parte das conversas cotidianas e às vezes dão a sensação de que não é mais possível viver nesses tempos.” Ela toma posição e está certa de que é preciso indignar-se, mas diz que o ódio indiferenciado é o que há de pior, é uma doença da alma: “O ódio não é da minha natureza...Se chegar a tal ponto neste momento, de realmente odiar, então estarei ferida na alma e deverei procurar uma cura o mais rápido possível.”
O que mais tarde aparecerá a todos nós, retrospectivamente, como um percurso espiritual de longo alcance é forjado nesse cenário onde a atenção a si é, ao mesmo tempo, uma forma de ler o mundo à sua volta.
Ricardo Fenati
18.11.2019
Trata-se sempre, ao longo do Diário, de permitir que alguma coisa venha à luz, de acolher o que parece, de início, estranho avesso. “Às vezes posso, de improviso, de forma clara e nítida sobre determinada matéria, grandes pensamentos vagos, quase impalpáveis, que fazem com que eu de súbito me sinta muito importante. Porém, quando tento escrevê-los, acabam encolhendo e não dando em nada, e por isso também não tenho ânimo de ordená-los no papel, pois é provável que eu fique decepcionada com o ensaio insignificante que resultaria. Mas agora vou dizer uma coisa com muita ênfase: não conte com a concretização das grandes ideias vagas...
Claro, você se atém a seus pressentimentos e intuições, são fontes de onde você bebe, mas cuide para não se afogar na fonte. Organize um pouco as coisas, faça alguma higiene mental. Suas fantasias, emoções profundas etc. são o enorme oceano, dali você tem que extrair minúsculos pedaços de terra que serão outra vez inundados. Um oceano assim é por demais vasto e elementar, mas o importante são os pequenos pedaços de terra que se consegue conquistar ali.”. Isto é escrito na Holanda, em março de 1941, portanto sob a sombra perversa do nazismo.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
É com Julius Spier, psicoquirólogo judeu, paciente e discípulo de Jung, o primeiro dos encontros de Etty Hillesum e é ele quem lhe aconselha que escreva um diário. Mais tarde, irá se referirá a ele como “o obstetra de minha alma”. Suas primeiras impressões de S., é assim que ele será nomeado ao longo do Diário, são ambíguas, mas ela se diz “...muito impressionada com seu trabalho: a avaliação dos meus conflitos mais profundos através da leitura de minha segunda face: as mãos.” Ela escreve: “Lá estava eu com um bloqueio espiritual. E ele poria ordem ao caos interior, estaria à frente das forças opostas que atuam no meu conflito interno. Ele, por assim dizer, pegou-me pela mão e disse, olhe, é assim que você tem de viver. A vida inteira tive esse desejo: se pelo menos alguém me pegasse pela mão e cuidasse um pouco de mim; pareço forte e faço tudo sozinha, mas eu gostaria tanto de poder me entregar.” A atividade terapêutica é pouco ortodoxa: ginástica, lutas, exercícios de respiração, palavras, entre outras coisas. Etty vislumbra: é isso, corpo e alma são um. Uma primeira menção a Deus, um verso de um poeta holandês:
“O mundo rola melodioso na mão de Deus, essas palavras de Verwey não me saíram da cabeça o dia inteiro. Queria eu mesma rolar na melodiosa mão de Deus.
O aprendizado de si tem início, a aventura espiritual está começando. Um dia, mais adiante, S. dirá a Etty: “Tenho a impressão de ser um ‘estado preparatório’ para um grande amor teu”.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
Aproveitando a publicação no Brasil do Diário de Etty Hillesum (Uma vida interrompida, ed. Âyiné, 2019), vou, nesta e nas próximas colunas, procurar transcrever e, aqui e ali, comentar trechos do Diário que possam levar os que se interessam pelo campo da mística a se debruçar sobre a sua obra, testemunha, no século XX e em meio a circunstâncias mais do que dolorosas, do vigor da experiência mística.
O diário de Etty Hillesum tem início em 9 de Março de 1941. Ela, nascida em 1914, holandesa, tem então 27 anos. "Este é um momento doloroso e quase intransponível para mim: confiar meu coração inibido a um tolo pedaço de papel pautado".Os pensamentos são claros, os sentimentos são profundos, mas é mesmo possível ordená-los por escrito? E Etty se apresenta: "É como na relação sexual, o último grito de satisfação fica sempre apertado no peito. Em termos eróticos, sou refinada e diria quase experiente o bastante para pertencer à categoria das boas amantes, e o amor então parece perfeito, mas continua a ser uma brincadeira que desvia do essencial, lá dentro algo continua preso em mim." Um pouco adiante ela continua: "... bem lá no fundo, há um novelo emaranhado, algo que me trava e de vez em quando não passo de uma pobre coitada cheia de medo, apesar da lucidez de meu pensamento".
Daí parte o que mais tarde seria percebido, em meio à barbárie nazista, como uma aventura espiritual, marcada por uma série de encontros. José Tolentino de Mendonça, que prefacia a edição portuguesa do Diário, fala desses encontros: "... o primeiro tem o nome de uma pessoa, o segundo tem o nome de um lugar; o terceiro não tem nome: é o encontro com o próprio Inominável."
Ricardo Fenati
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Há romances que devem ser lidos. E não porque sua leitura sirva como nossa inclusão no rol das pessoas ditas cultas. Romances, alguns grandes romances, são oportunidades raras e poderosas de autocompreensão, essa atividade para a qual contamos hoje com tão poucos recursos. Mesmo que procuremos ocultar o enigma de que somos feitos sob coisas tão banais como a expansão do consumo material ou como uma ou outra moda cultural, permaneceremos empobrecidos e isolados, reféns de uma angústia tão mais forte quanto desconhecida.
Esses grandes romances são mapas, versões poderosas da aventura humana quando ela não se recusa caminhar na direção das grandes questões que se, de um lado, nos atemorizam, de outro, são as únicas capazes de nos humanizar. Talvez seja assim mesmo, talvez a humanidade não nos seja dada de início, mas venha como um resultado sempre inacabado de nosso desejo de desvendar a que, enfim, pertencemos, de que pátria somos originários ou a que pátria somos destinados.
Esqueça o consolo fácil, e falso, da autoajuda, abra um tempo de leitura e experimente Dostoiévski. Leia, por exemplo, Crime e Castigo, a história da oscilação entre a dor e a redenção de Raskólnikov. Não se assuste, talvez seja a nossa história.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
A recomendação ao silêncio, ainda que em medida diversa, é parte constitutiva de grande parte de nossas tradições místicas, não importa se ocidentais ou orientais. E se trata de algo compreensível na medida em que a mística lida com um tipo de experiência que, não raras vezes, excede as possibilidades da linguagem e avança em direção a territórios cuja nomeação é sempre precária. E não se trata apenas do campo da mística. Mesmo no cotidiano, horas há que é o silêncio que nos dá acesso ao significado em jogo. Mas como nos assuntos humanos é sempre desejável a prudência, o recurso ao silêncio não deve nos levar à recusa da palavra.
Pode ser que nos ajude uma distinção entre silêncio e silenciamento. Silêncio é reverência diante do mistério, diante do fundo irredutível do real, silenciamento é ocultação, mascaramento, daquilo que pode e tem como ser conhecido e decifrado. Ao capitular diante do que poderia ser conhecido, do que cabe a nós compreender, estreitamos nossa existência. Recusando o exercício da linguagem, permanecemos reféns de nossas primeiras inclinações, sujeitados ao que (e a quem) nos rodeia. A linguagem é o que possibilita ir além do que é imediato e desvendar o que se oculta a um primeiro olhar, ao apetite errático dos nossos interesses.
Faltando a nós, seja como indivíduos, seja como sociedade, esse apreço pela linguagem e por sua capacidade de desvelar o que um primeiro olhar costuma ocultar, é todo um mundo de experiências que, apesar de serem contundentemente reais, permanecerá oculto e, à nossa revelia, incidirá sobre nós.
Portanto, são tempos distintos, ambos com valor, o tempo do silêncio e o tempo da palavra.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
«Interroga a graça, não a ciência; o desejo, não o intelecto; o suspiro da oração, não o anseio de ler; o esposo, não o mestre; Deus, não o homem; o nevoeiro, não a clareza. Interroga não a luz, mas o fogo que inflama todo o ser e o mergulha em Deus.»
Extraio este belíssimo final do “Itinerário da mente para Deus”, de S. Boaventura, o filósofo franciscano do século XIII, amado também por Dante, que o colocará no Paraíso.
A opção que o santo propõe é a de depor os despojos da arrogância intelectual, da soberba da alma, da busca apenas curiosa, para aportar ao abandono entre os braços da graça, à intimidade da oração e da contemplação, à chama do amor.
Um itinerário espiritual que, ainda que não rejeitando a inteligência, distende-se pela via da adesão, da intuição, da pureza de espírito. É, portanto, a proposta de um percurso mais radical e menos “calculado”, mais generoso e espontâneo que envolva toda a pessoa, e não uma só dimensão.
Há um passo que me atrai, até porque resulta algo provocatório: «Interroga o nevoeiro, não a clareza». À primeira vista, com efeito, devemos expor-nos para a luz. Boaventura, ao contrário, recorda-nos que – quando se entra no mistério de Deus –, movemo-nos às apalpadelas, no meio de uma espécie de obscuridade rasgada por lampejos.
É necessário, por isso, reconhecer o nosso limite e a cegueira que gera o infinito divino, contra toda a orgulhosa ilusão de possuir e “explicar” Deus, como pode acontecer ao fiel que modela a divindade à sua imagem e semelhança.
Acreditar é, em consequência, um ato de humildade que se manifesta precisamente na travessia através da névoa, intuindo o relampejar do rosto de Deus.
Daqui a três anos, em 2021, estaremos comemorando os 200 anos de nascimento de Dostoiévski, cuja obra não cessa de apaixonar velhos e novos leitores. Ítalo Calvino dizia que “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Não é exagero considerar que alguns dos livros de Dostoiévski – indisputadamente Crime e Castigo e Os irmãos Karamázov – são, nesse sentido, clássicos. E há outros, por exemplo, Notas do Subsolo, cuja repercussão no existencialismo francês e na cultura contemporânea é mais do que evidente.
É quase um consenso entre os seus intérpretes falar de duas etapas na sua vida de escritor, divididas pela experiência da prisão e do tempo de serviço militar. O ano de 1860, data da publicação da Recordação da Casa dos Mortos, marca o início da segunda fase, na qual encontraremos os grandes romances. Como teremos quatro colunas seguidas sobre as obras do mestre russo, vamos começar pela narrativa dos anos de prisão, a Recordação da Casa dos Mortos. Recebida como um manifesto humanista, põe às claras a absurda crueldade das prisões russas, os castigos desumanos, as condições deterioradas dos presídios, os abusos no exercício do poder por parte das autoridades, enfim, um quadro cuja revelação mostrou a insustentabilidade das condições carcerárias de então. Entretanto, nós nos enganaríamos se víssemos na obra apenas um relato, ainda que importante, dessas condições.
Trata-se de um registro, é verdade, mas não só. É a partir de um ponto de vista antropológico, que não cessará de ganhar corpo nas obras seguintes, que a vida prisional é vista. Dostoiévski esteve preso e já foi dito que a temporada na prisão é uma espécie de iniciação espiritual para ele. Desprotegida dos véus com os quais o cotidiano esconde os nossos abismos, a prisão lhe aproximou da carne viva da existência humana e, isto não é um exagero, revelou Dostoiévski a Dostoiévski.
Temas que mais tarde serão aprofundados fazem aqui (quase) a sua primeira aparição: a compassividade para os humildes e humilhados, a percepção dos problemas metafísicos que rondam a existência humana, a agudeza do olhar psicológico, a oscilação entre dois destinos possíveis – a santidade e o crime –, a distinção entre a honra e a desonra. É na prisão, vivendo com os demais prisioneiros, que Dostoiévski aprende, para sempre, que a luta pelo significado e a experiência da liberdade são inseparáveis do que devemos considerar como uma vida humana.
A obra confirma o que Dostoiévski, então com 18 anos, escreve numa carta ao seu irmão Mikhail: “O homem é um enigma. Esse enigma tem de ser decifrado e se você levar a vida inteira para fazê-lo não diga que desperdiçou seu tempo. Eu me ocupo desse enigma porque quero ser um homem.”
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
Na coluna anterior, nós nos perguntávamos se a tradição humanista, uma vez reconhecidos os problemas enfrentados por ela no nosso tempo, não se aproxima rapidamente do seu ocaso. E ainda mais: a possível dissolução do humanismo não repercute sobre o ideário cristão, cuja trajetória no Ocidente evidencia, até mesmo doutrinariamente, uma valorização da experiência humana? Não é uma questão de fácil resolução até porque somos mais sensíveis hoje aos problemas do que às eventuais soluções a eles apresentadas.
Os dados estão diante de nós, mas não devemos esperar dos fatos o que eles não podem dar. Estamos, isso sim, diante de uma temática claramente ética, que tem a ver com valores. Como sabemos, a existência humana não conta com a instrução de uma natureza que lhe indique caminhos a serem inevitavelmente seguidos. Por outro lado, não somos infinitamente maleáveis ou sempre dependentes da variação das circunstâncias ao nosso redor. Alguém disse um dia que tornar-se humano é um dever, o que quer dizer que o lugar real por nós habitado é esse espaço entre o que somos e o que devemos ser. Se a observação sobre nós mesmos, sobre a história da caminhada humana no tempo, indica, em parte, a materialidade de que somos constituídos, o sentimento de que nenhuma concretude exaure o enigma humano impede a nossa capitulação diante de qualquer acabamento, mesmo os mais sedutores.
Entretanto, onde está a nossa salvação, está também o risco que corremos. Se nos acostumados a habitar o espaço claro dos fatos e das certezas, o domínio do que está dado, deixaremos de ser fiéis ao que mais propriamente nos constitui, ou seja a fidelidade ao mistério a que pertencemos e ao dever de desejar daí decorrente. O que talvez abra uma outra questão: que saberes são esses, capazes de se mover nesse terreno onde o que não sabemos ainda, mas deveríamos saber, prepondera sobre o que sabemos? O que pode educar o nosso desejo?
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
Humanismo é uma dessas palavras às quais, quase de imediato, damos nossa adesão. Parece consistir numa defesa do que é propriamente humano, combatendo o que ameaça destruir nossa integridade. Assim desafiar o humanismo seria opor-se ao humano, colocar-se ao lado das forças que aviltam, de algum modo, nossa existência.
Considerando historicamente, o humanismo brota no Renascimento, como se pode ver na célebre Oração sobre a Dignidade Humana, de Picco della Mirandola, prossegue no iluminismo e desemboca, mais à frente, na ênfase na história, lugar e tempo onde o humano, liberado de qualquer tutela, iria, enfim, se constituir.
Entretanto, o cenário não é mais tão simples assim.
Há os que enxergam no humanismo uma valoração indevida do humano frente ao que também constitui parte do mundo. A própria natureza teria, metaforicamente falando, seus direitos, o que é defendido pelos esforços oriundos da sensibilidade ecológica. As demais espécies, é o que se defende às vezes com um exagero que resta por ser compreendido, não devem estar à disposição dos humanos.
Há também os que, diante dos impasses a que chegou o ideário iluminista, negam qualquer possibilidade de uma compreensão mais alargada do humano e cedem o espaço a um relativismo morno, sempre cativo do tempo e do lugar..
Outros se entusiasmam pelas possibilidades decorrentes dos desenvolvimentos da biologia contemporânea e insistem em inscrever o que haveria de propriamente humano na cadeia causal que é comum a quaisquer espécies vivas.
Mas isso será tudo mesmo? A tradição humanista está com os dias contados? E a relação entre humanismo e cristianismo? Vamos prosseguir a discussão na próxima coluna.
Ricardo Fenati
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Horizonte é o que está além de nós mesmos, o que está, ainda, ao longe. E é o que, criando um intervalo, nos permite caminhar. Sem horizontes, ficamos confinados, sem espaço. Podemos estar diante de horizontes físicos como os que se apresentam à nossa vista, muitas vezes ocultados pela desorganização urbana das cidades que habitamos. Ou diante de horizontes simbólicos, esses mais sutis, cuja perda ou ocultação é mais difícil de perceber.
Horizontes simbólicos decorrem de crenças, de valores, de ideias, à luz dos quais lidamos com o ofício de existir. E que material é esse? É o que nos lembra da beleza, da bondade, do amor, da coragem, da verdade, da justiça, da alegria e do Sentido. Nada disso está à mão, nada disso nos é entregue sem trabalho, pelo contrário, tudo depende de um percurso, de uma caminhada, de um alargamento de nós mesmos, enfim, de uma aventura que é, ao mesmo tempo, pessoal e civilizatória. Estando ao longe, criam a possibilidade e a necessidade de uma caminhada, ainda que em meio à incerteza e à imprecisão.
Entretanto, como é frequente ocorrer nos assuntos humanos, há um risco. Podemos trocar a distância do horizonte pela urgência do nosso interesse, pelo que nos cerca mais imediatamente: mais dinheiro, mais poder, mais prazer, mais ideias prontas. Desaparece o intervalo que propicia o horizonte e imaginamos que, recusando as perguntas, as respostas serão entregues a nós. Não serão.
Se é verdade que esses dois caminhos sempre estiveram presentes na história, não é menos verdade que nossa época apresenta uma coloração inédita: de um lado, nunca zelamos tanto pela saciedade imediata, nunca o prazer, o poder, a acumulação material e as ideias prontas foram tão prezados e, de outro, a cultura nunca esteve tão empobrecida no que diz respeito a ideais mais distanciados da vida imediata, tornando, assim, mais estreitos os horizontes.
Somos mesmo uma época mais humanizada?
Ricardo Fenati
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Contar e ouvir histórias são costumes antigos das civilizações, atividades presentes em qualquer comunidade humana. Em torno de uma fogueira sob o céu estrelado ou no aconchego de uma sala na noite fria ou chuvosa, o que nos reúne em torno das histórias é uma mesma interrogação: quem somos nós? Se, de um lado, pertencemos, como toda a Criação, à natureza, de outro lado, somos visitados por uma inquietação persistente, que nada parece aplacar. Somos, com freqüência, incomodados por um sentimento de expatriação, como se vivêssemos ao modo de exilados de uma terra que, para nós, permanece oculta e indecifrada.
É a esse silêncio, no mais íntimo de nós, que pertencemos. É dele que brota a interrogação que nos conduz às histórias que contamos e ouvimos. Histórias são tentativas de tornar menos hostil o ambiente que nos cerca, de tornar um pouco mais amena a existência que nos abarca. Não importam os terrenos de onde brotam as histórias: mitos, religiões, filosofias, ciências. Trata-se, sempre, de criar um mundo habitável, indicando o que cumpre evitar e o que deve ser feito, marcando os caminhos a serem percorridos e os a serem abandonados, atentos ao que cabe esperar e fiéis ao depende de nós. Porque é dessa matéria que nós, os humanos, somos feitos: cabe a nós conviver com perguntas para as quais as respostas, inevitáveis, sempre parecerão acanhadas, inacabadas. Não importa, é nessa faina, é nessa oficina, que somos forjados, é esse cuidado que nos humaniza. Desistidos dele, será de nós mesmos que estaremos desistindo.
Ricardo Fenati
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Procure, quando puder, por Um Livro de Horas, editado em 2007. Trata-se de uma seleção dos poemas de Emily Dickinson, traduzidos e ilustrados por Ângela Lago e publicados pela editora Siciliano.
Livros de horas, uma antiga tradição, reúnem textos de natureza devocional que, socorrendo-se da espiritualidade, debruçam-se sobre as inevitáveis estações da existência. Horas há em demasia, entre tantas outras, as da alegria, as da tristeza, as do enigma e as do amor. E ao nomeá-las com delicadeza e profundidade nos textos aproximamo-nos um pouco mais de nós mesmos. Lançando mão agora da poesia, Ângela Lago enriquece a tradição. Lembra que “Desde menina costumo declamar poemas na hora de aflição. Deus, que vive em toda parte, lá no fundo de mim, escuta. E me dá de imediato o conforto da beleza”.
Nesses tempos em que a linguagem parece confinada seja pelo pragmatismo do dia a dia, seja pela violência da certeza, é da poesia que podemos lançar mão se não quisermos perder de vista a existência propriamente humana que, nas suas horas mais significativas, transcorre em alto mar. Despossuídos da poesia, perderíamos a carta de navegação.
E para a hora da verdade no Livro de Horas:
“Fale a verdade toda, mas fale de viés.
No rodeio está o sucesso.
Para nossa frágil felicidade,
A surpresa da verdade brilha em excesso.
Como o raio que por bondade,
Alguém explica a criança que se assusta,
Deve brilhar pouco a pouco a verdade,
Ou todos seremos cegos à sua custa”
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
Bom humor, bom humor mesmo, pouco tem a ver com essa alegria que as pessoas julgam obrigatória nas intermináveis fotos do FB e redes semelhantes. E muito menos na ostentação de uma suposta felicidade, que hoje parece ser um dever coletivo. O bom humor, pelo menos um que seja mais duradouro, brota é de um certo olhar sobre nós mesmos, da capacidade de rir de nós mesmos, de uma espécie de desinflação psíquica. De fato, está passando da hora de reconhecermos que não somos tão bons quanto nos julgamos, nem tão inteligentes, nem tão perspicazes quanto gostamos de parecer. E nem nossos adversários são tão estúpidos, ignorantes ou passíveis de suspeição quando alardeamos. A linha que divide bons e maus existe, embora não seja tão nítida como desejamos. E mais; nenhum de nós está o tempo todo do lado bom. O mundo, o mundo real, não cabe inteiro nos nossos discursos por mais articulados que pareçam. Sobra sempre, ainda bem. O ódio que cultivamos, a indignação que esbravejamos, não poucas vezes, fala mais de nós mesmos e não tanto sobre os outros. Claro, não é o caso de defender nenhum indiferentismo e nem afirmar que todos os gatos são igualmente pardos. Não são, mas um bom humor desse tipo parece necessário se quisermos, de fato, retomar a conversação entre nós, sair de nossas ilhas, relaxar nossas defesas. Embora andemos esquecidos, fomos feitos, nós, os humanos, uns para os outros, para que nos eduquemos mutuamente. E não para essa raiva surda, cheia de certezas e, suspeito, desesperada, que tem marcado nosso cotidiano. E lembrando Fernando Pessoa andamos precisando de um Esteves. Não um Esteves sem metafísica, que a metafísica tem lá seu encanto, mas um Esteves que nos tire do nosso endurecido mal humor.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
Um bocado de coisas, certamente, mas não adianta prometer sem provar. Se não der para provar, e prova é uma palavra quase inaplicável em filosofia, quem sabe será possível convencer a que todos nós prestemos mais atenção nas questões propostas pelos filósofos e nos textos que escritos por eles.
É comum, nos livros de introdução, insistir que a filosofia é um esforço para pensar um pouco mais, para refletir sobre aqueles pontos cuja verdade damos por suposta e acertada. É uma boa definição que esclarece, sem esgotar, o sentido da filosofia. Um exemplo? Pode ser a ideia de imaginação, o modo como usamos essa expressão no cotidiano. Não poucas vezes, para não dizer quase sempre, a palavra imaginação é associada por nós a uma espécie de saída ou retirada da realidade. Ou ainda como algo menos que real. Muito imaginativo é alguém cuja conversa pode ser atraente, mas permanece distanciada daquilo que conta, o tal real. Outras vezes imaginar é recordar mentalmente algo que já vivemos, por exemplo, a praia de férias inesquecíveis ou algo que desejamos mais à frente, uma viagem a Portugal.
A imaginação não teria a seriedade da razão, que está sempre disposta a apontar as coisas tais como são e não como gostáramos que fossem. Usamos a expressão assim e às vezes esse uso dá conta do que estamos vivendo. Mas nem por isso devemos tomar um uso específico pela totalidade do significado que um termo encerra. Imaginação pode ser mais do que isso, pode ser bem diferente disso. Uma obra de arte, a Noite Estrelada de Van Gogh, uma teoria científica, a mecânica newtoniana, uma obra literária, o Dom Casmurro, a hipótese freudiana do inconsciente, não são exercícios de imaginação? Você discorda? Veja o argumento. Certamente nenhum desses exemplos pode ser observado diretamente, nenhum é uma espécie de cópia ou retrato de algo que observamos. Capitu não anda por aí, a gravidade não pode ser vista, as noites que vemos não parecem em nada com a de Van Gogh e nem encontramos o inconsciente numa esquina qualquer. Portanto, cabem na ideia de imaginação como algo irreal, algo a que falta o peso do real.
Será assim? Que são atividades da imaginação, todos concordamos. Mas a discordância terá início quando percebermos que estamos diante de 4 instrumentos, cada um a seu modo, decifradores da realidade. Descortinam um excesso de realidade que uma visão estreita ocultava. Sem o exercício da imaginação, permaneceríamos atados a essa fração diminuta da experiência que confundimos tão equivocadamente com o real. Não é despropositado, e nem contrário à nossa experiência, lembrar que sem a imaginação, essa aparente louca na casa da razão, a nossa presença no mundo e o próprio mundo estariam severamente empobrecidos.
Vez por outra, não vale a pena nos voltarmos para uma discussão em filosofia?
Ricardo Fenati
Equipe do site
Pena que o filme – Silêncio – tenha ficado tão pouco tempo em cartaz. Não faz mal, se não possível acessar o filme, o livro está disponível e sua leitura favorece a discussão de um bocado de temas. Por exemplo, o cotejo de civilizações em tudo distintas: visão de mundo, crenças e costumes. A convivência, para não dizer o encontro, é mesmo possível? No caso trata-se da presença do cristianismo no Japão dos séculos 16 e 17, acolhida de início e, em seguida, objeto de uma perseguição tenaz. Culturas são mesmo mutuamente excludentes ou é possível que esses encontros sejam marcados por uma dosagem adequada que evite tanto a reiteração da mensagem original como a sua completa diluição? É melhor garantir formas de proteção que mantenham intactas as culturas originais ou deve ser buscado algum terreno comum que, habitado pelas culturas em questão, não seja esgotado por nenhuma delas? Costumamos aceitar a convivência entre culturas quando se trata de temas onde as diferenças não são significativas, o que costuma ocorrer, por exemplo, no campo das ciências da natureza ou nas tecnologias. Nesse caso, o esforço de aproximação é quase desnecessário, visto não haver, ou quase, qualquer singularidade. Mas não é verdade que a aproximação seria mais desejável justamente a partir dos campos onde, de início, a diversidade é mais acentuada e as diferenças mais significativas? Não é aí que é provada nossa capacidade de escuta e aprendizagem? Não me parece haver, no longo prazo, uma alternativa, mesmo porque a mera reafirmação da diversidade desemboca não poucas vezes, como sabemos, na indiferença. Mas essa é apenas uma das questões que justificam, com sobras, ver o filme e ler o livro. Das outras, de algumas delas, trataremos a seguir.
Ricardo Fenati
Equipe do site
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